quarta-feira, 18 de novembro de 2009

A revolta de Fernando Nobre: "Temos 40% de pobres"

O presidente da AMI, Fernando Nobre, criticou no passado 23 de Outubro a posição das associações
patronais que se têm manifestado contra aumentos no salário mínimo nacional.
Na sua intervenção no III Congresso Nacional de Economistas, Nobre
considerou "completamente intolerável" que exista quem viva "com pensões de
300 ou menos euros por mês", e questionou toda a plateia se "acham que algum
de nós viveria com 450 euros por mês?"

Numa intervenção que arrancou aplausos aos vários economistas presentes,
Fernando Nobre disse que não podia tolerar "que exista quem viva com 450
euros por mês", apontando que se sente envergonhado com "as nossas
reformas".

"Os números dizem 18% de pobres... Não me venham com isso. Não entram nestes
números quem recebe os subsídios de inserção, complementos de reforça e
todos outros. Garanto que em Portugal temos uma pobreza estruturada acima
dos 40%, é outra coisa que me envergonha..." disse ainda.

"Quando oiço o patronato a dizer que o salário mínimo não pode subir....
algum de nós viveria com 450 euros por mês? Há que redistribuir, diminuir as
diferenças. Há 100 jovens licenciados a sair do país por mês, enfrentamos
uma nova onda emigratória que é tabu falar. Muitos jovens perderam a
esperança e estão à procura de novos horizontes... e com razão", salientou
Fernando Nobre.

O presidente da AMI, visivelmente emocionado com o apelo que tenta lançar
aos economistas presentes no Funchal, pediu mesmo que "pensem mais do que
dois minutos em tudo isto". Para Fernando Nobre "não é justo que alguém
chegue à sua empresa e duplique o seu próprio salário ao mesmo tempo que faz
uma redução de pessoal. Nada mais vai ficar na mesma", criticou, garantindo
que a sociedade "não vai aceitar que tudo fique na mesma".

No final da sua intervenção, Fernando Nobre apontou baterias a uma pequena
parte da plateia, composta por jovens estudantes, citando para isso Sophia
de Mello Breyner. "Nada é mais triste que um ser humano mais acomodado",
citou, virando-se depois para os jovens e desafiando-os: "Não se deixem
acomodar. Sejam críticos, exigentes. A vossa geração será a primeira com
menos do que os vossos pais".

Fernando Nobre ainda atacou todos aqueles que "acumulam reformas que podem
chegar aos 20 mil euros quanto outros vivem com pensões de 130, 150 ou 200
euros... Não é um Estado viável! Sejamos mais humanos, inteligentes e
sensíveis".