Ao meu avô

Hoje é o dia em que acaba uma vida em cheio, uma vida plena, com alguns golpes fortes no fim, sempre superados. Da minha parte, posso dizer que recordo com saudade as conversas, os passeios de manhã pela Serra da Arrábida, as idas à praia de Sesimbra, a companhia. Foi com ele que aprendi a compreender e a gostar da Natureza, porque ele tudo sabia. Ensinava-me as flores, as plantas todas, os bichinhos grandes e pequenos. Como eu gostava daquilo, como eu me divertia! Recordo também coisas não tão agradáveis quando o via de bata branca em cima de mim a arrancar-me dentes ou judiarias parecidas. Mas depois vinha sempre um geladinho ou um peixinho cozido com batatinhas por ele cozinhado, para compensar… e como compensava!
Ele era o homem que eu conhecia que mais gostava de beijinhos, abraços, carinho, mão dada, que apertou sempre até ao fim com toda a força que tinha. Força… tinha tanta! Meu Deus, lembro-me daquela vez que me puxou para um primeiro andar agarrada a uma corda…
Gostava da boa vida, de estar com os amigos, conviver, rir, contar muitas piadas, anedotas. Por isso tudo e por ser tão bom ficou com amigos que estou certa serão para sempre, mesmo depois da morte. Amigos estes que, infelizmente para eles e para nós, não podem estar presentes neste momento por ser tão longe, e por ser dia de semana. É assim, todos nós temos as nossas vidas, as nossas rotinas e a vida tem mesmo que continuar.
Aqui estamos nós unidos para recordar uma vida em pleno, que é a única coisa preciosa que podemos levar da nossa estadia por cá.
Esta casa e as nossas vidas ficam estranhamente mais vazias. O mundo fica definitivamente um pouco mais pobre.


Até sempre, meu avô.